domingo, 13 de março de 2011

Japão vive o pior acidente nuclear desde o desastre de Chernobil

Por Nicolau Ferreira
Primeiro o tremor de terra, depois o tsunami, agora uma explosão numa central nuclear devido ao sismo obriga Governo japonês a reagir


A explosão que ocorreu ontem na central nuclear de Fukushima I foi a pior desde Chernobil. 

O acidente causado pelo sismo de sexta-feira obrigou cerca de 140 mil pessoas que viviam na região, a 240 quilómetros a nordeste de Tóquio, a abandonarem as suas casas devido à poluição radioactiva. 

A explosão foi classificada ontem de nível 4 na Escala Internacional de Acontecimentos Nucleares, pela Agência de Segurança Nuclear e Industrial japonesa. 

A gravidade do acidente ficou logo abaixo da explosão de Three Mile Island em 1979 e longe do acidente de Chernobil, em 1986, na ex-URSS, que foi classificado com o nível 7, o máximo da escala. 
Embora o Governo japonês declare que o incidente está controlado, a comunidade internacional está com os olhos postos na central.

A explosão deu-se às 15h36 (6h36 em Lisboa), um dia depois do sismo de 8,9 na escala de Richter ter abalado o território e provocado um tsunami que se estima já ter morto 1800 pessoas, segundo a agência de notícias Kyodo. Quatro feridos leves foram resgatados do acidente da central, que lançou o pânico de um novo Chernobil afectar um país que sobreviveu a duas bombas nucleares em 1945.

Mas um porta-voz do Governo garantiu que as radiações estavam a baixar e que a explosão não tinha afectado o núcleo do reactor. 


"A segurança dos nossos concidadãos é a prioridade que guia as nossas acções", declarou ontem o primeiro-ministro japonês, Naoto Kan, durante uma conferência ao final da tarde.

A central de Fukushima I, com seis reactores, fica na costa leste da ilha de Honshu, na província de Fukushima, a 240 quilómetros a nordeste de Tóquio. O sismo de sexta-feira causou uma avaria no sistema de refrigeração na central. Um corte de electricidade impediu a recuperação deste sistema, permitindo que as barras de combustível continuassem a aquecer, o que fez aumentar a pressão interna.

A televisão japonesa NHK avisou logo na sexta-feira que o nível da radioactividade era oito vezes superior ao normal. A empresa japonesa Tokyo Electrical Power Co (Tepco), dona das instalações, tentou diminuir alguma desta pressão libertando vapor radioactivo. Mas a presença de hidrogénio libertado acabou por provocar a explosão que destruiu o tecto do edifício do reactor principal.

"O que é importante é saber onde foi a explosão", dizia ontem de manhã à Reuters Paddy Regan, físico nuclear da Universidade de Surrey, Inglaterra. "Não se percebe o que explodiu. O grande problema é se a cuba de pressão do reactor nuclear [onde está o combustível nuclear] tiver explodido, mas não parece ser isso que rebentou."

Yukio Edano, porta-voz do Governo, confirmou este cenário. "O reactor nuclear está rodeado por um contentor de aço, que por sua vez está rodeado por um edifício de cimento. Foi este edifício que ficou destruído. Soubemos que a parte interior não ficou danificada com a explosão", disse ontem, durante uma conferência de imprensa.

A Tepco disse ontem que os planos para baixar a temperatura da central era preencher o reactor nuclear com água do mar para a pressão finalmente poder diminuir. O processo demora dez horas só para encher a parte interna e cerca de dez dias para completar todo o processo, adiantou.

A Fukushima I foi apenas uma das 15 centrais que foram afectadas pelo sismo e tiveram que ser encerradas, mas 11 delas foram reactivadas a seguir. 


Segundo o Centro de Informação Nuclear para os Cidadãos, uma organização antinuclear sediada em Tóquio, nenhuma das centrais do país foi construída para suportar um sismo superior a 6,5 na escala de Richter. 

A Fukushima II, a uma dúzia de quilómetros da I, também teve problemas para arrefecer os quatro reactores. Os operadores tiveram que abrir as válvulas para deixar escapar o vapor radioactivo e diminuir a pressão.

As autoridades japonesas anunciaram ir dar comprimidos de iodo às pessoas que vivem perto das centrais, como medida para mitigar a exposição à radiação. Antes da explosão, as autoridades tinham mandado evacuar toda a região num raio de dez quilómetros a partir das centrais, mas ontem aumentaram este raio para 20 quilómetros depois do incidente, o que obrigou 140 mil pessoas a retirarem-se da região, segundo a Agência Internacional de Energia Atómica. 

As estações de televisão japonesas aconselharam os habitantes que vivem a mais de dez quilómetros de distância a fecharem as janelas, desligarem os sistemas de ar condicionado e protegerem as condutas de ar com toalhas molhadas para evitarem ao máximo a exposição à radiação. Além disso, aconselharam as pessoas a cobrirem-se com roupa, para a pele não entrar em contacto com o ar.

Já se confirmou a contaminação por radiação a pelo menos três japoneses. Os pacientes, que agora estão num hospital juntamente com mais 90 pessoas, viviam numa aldeia próxima da Fukushima I. 


Segundo a Kyodo, a radiação recebida junto à central por uma pessoa numa hora corresponde ao limite máximo que se pode receber durante um ano.

Entretanto, a comunidade internacional está em alerta. Uma nuvem radioactiva pode hoje atingir a região de Kamchatka, no extremo oriente da Rússia, a norte do Japão. 


As autoridades austríacas aconselharam todos os austríacos que estivessem a viajar no Nordeste de Honshu a saírem da região. 

A Comissão Europeia convocou uma reunião sobre a indústria nuclear para a semana. Ou seja, o medo do nuclear voltou.

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